Drummond,

não sei se me assusto ou me emociono com as convergências da vida. Confesso que, por vezes, me assusto. Hoje, ao pegar o ônibus, continuei a ler “Durante aquele estranho chá”. Guardei o encontro da Lygia contigo para ser a ultima leitura. Queria terminar o livro tendo a plena certeza de que não me esqueceria de detalhe nenhum. E ontem, veja só, havia escrito sobre você. Não exatamente sobre a sua pessoa, mas sobre a minha. O seu efeito sobre mim. No caminho pra casa, ao terminar de ler o texto da Lygia, só consegui pensar em te escrever. Questioná-lo sobre sua intencionalidade ou não em promover mudanças demasiadamente intensas em duas almas tão distintas. E em quantas almas mais?! Mas, penso que não posso. Há tanta identificação ali que qualquer comentário meu seria quase uma transcrição. Por isso, me desvio dessa tarefa. Só digo-te que, se mais páginas o texto da Lygia tivesse, mais distante eu teria que morar, pois não conseguiria descer em meu ponto antes do ponto-final dela.

.

O texto se refere a uma carta, dessa vez enviada:
“Quem primeiro me fez enxergar e, principalmente, sentir as dores do mundo não foi nenhum grande teórico político ou algo que se assemelhe. Foi esse humilde poeta. Há muitos anos atrás, ainda na escola, enquanto a professora de literatura me apresentava todo o lirismo dos poetas românticos ou dos razoavelmente modernos, a bibliotecária me presenteou com “A rosa do povo”. O primeiro poema que li, ainda na biblioteca, foi “Nosso tempo”. Nesse mesmo dia tomei Drummond para mim. E foi ele, com toda sua poesia sincera, que me inseriu no mundo real e me ensinou que, apesar dos pesares, podemos sim fazer poesia a partir dele. De uma maneira diferente, é o que tenho aprendido com você também, que há um jeito de fazer o mundo ser mais tolerável. Os dois trouxeram beleza a minha forma de ver as mudanças, Drummond pela poesia, você pelas ações (…)”

2 Comentários

Arquivado em Uncategorized

2 Respostas para “Drummond,

  1. Um ‘Viva’ para os encantamentos da vida, os das páginas e os da vida real.

  2. “se mais páginas o texto tivesse, mais distante eu teria que morar, pois não conseguiria descer em meu ponto antes do ponto-final dela.” Sou apaixonada por esse VERSO encrustrado nessa prosa tua.

Deixe um comentário